O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é comumente associado à infância, mas cada vez mais estudos mostram que ele pode persistir na vida adulta, afetando o desempenho profissional, os relacionamentos e o bem-estar emocional. Estima-se que entre 2,5% e 4,4% dos adultos em todo o mundo apresentem sintomas significativos de TDAH (Simon et al., 2009).
Neste artigo, vamos explorar em profundidade os sintomas do TDAH em adultos, os critérios atualizados para diagnóstico segundo o DSM-5-TR, além das opções terapêuticas mais eficazes, incluindo tratamentos medicamentosos e psicoterapias baseadas em evidências.
O que é o TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico do desenvolvimento que se caracteriza por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade. Embora mais frequentemente diagnosticado na infância, muitos casos não são identificados até a idade adulta (Kessler et al., 2006).
O cérebro de uma pessoa com TDAH apresenta diferenças funcionais em áreas relacionadas à autorregulação, como o córtex pré-frontal, e alterações nos níveis de neurotransmissores como a dopamina e a noradrenalina (Faraone et al., 2015).
Sintomas de TDAH em Adultos
Os sintomas do TDAH na vida adulta são diferentes dos observados em crianças. Em vez de correr e escalar, por exemplo, o adulto hiperativo pode se sentir inquieto ou agitado internamente. A seguir, estão os sintomas mais comuns divididos por categoria.
1. Desatenção
- Dificuldade em manter o foco em tarefas longas ou tediosas
- Esquecimento de compromissos, prazos e objetos pessoais
- Procrastinação crônica
- Problemas com organização e gerenciamento do tempo
- Tendência a cometer erros por descuido
2. Hiperatividade e Impulsividade
- Sensação de inquietação interna constante
- Falar excessivamente ou interromper os outros
- Dificuldade em esperar a vez
- Tomada de decisões precipitadas
- Mudança frequente de empregos, projetos ou relacionamentos
Estes sintomas precisam causar prejuízos funcionais significativos para que sejam considerados parte de um diagnóstico de TDAH (American Psychiatric Association, 2022).
Diagnóstico do TDAH em Adultos
Diagnosticar TDAH em adultos pode ser um desafio, pois muitos sintomas se sobrepõem a outras condições, como transtornos de humor, ansiedade, e até burnout.
1. Critérios Diagnósticos Atualizados (DSM-5-TR)
Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – 5ª edição revisada (DSM-5-TR), os critérios para o diagnóstico em adultos incluem:
- Presença de pelo menos 5 sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade
- Início dos sintomas antes dos 12 anos (mesmo que não tenham sido diagnosticados na infância)
- Impacto funcional em dois ou mais contextos (trabalho, casa, relacionamentos, etc.)
2. Instrumentos de Avaliação
- DIVA 5.0 – entrevista estruturada validada para diagnóstico em adultos
- CAARS (Conners’ Adult ADHD Rating Scales)
- ASRS (Adult Self-Report Scale), versão brasileira recomendada pela OMS
- Anamnese detalhada e relato de pessoas próximas
3. Diagnóstico Diferencial
É essencial descartar ou considerar comorbidades como:
- Transtornos de ansiedade
- Depressão
- Transtorno bipolar
- Uso de substâncias
- TEA (Transtorno do Espectro Autista)
A avaliação deve ser feita por um profissional de saúde mental qualificado.
Tratamento do TDAH em Adultos
O tratamento do TDAH é multimodal, podendo incluir medicação, psicoterapia, mudanças de estilo de vida e técnicas de organização pessoal.
1. Tratamento Medicamentoso
O uso de medicamentos é considerado o tratamento de primeira linha para adultos com TDAH, segundo diretrizes internacionais (NICE, 2018).
a. Psicoestimulantes
- Metilfenidato (Ritalina®, Concerta®)
- Lisdexanfetamina (Venvanse®)
Têm ação rápida e eficácia comprovada em até 80% dos casos (Faraone & Buitelaar, 2010).
b. Não-estimulantes
- Atomoxetina (Strattera®) – inibidor seletivo da recaptação de noradrenalina
- Bupropiona – antidepressivo com efeitos secundários positivos em TDAH
- Guanfacina – menos comum no Brasil, mas usado nos EUA
A escolha da medicação depende da tolerância, histórico clínico e comorbidades do paciente.
2. Psicoterapia Baseada em Evidências
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é amplamente recomendada para adultos com TDAH. Ela ajuda a desenvolver:
- Estratégias de organização e planejamento
- Habilidades de regulação emocional
- Técnicas de resolução de problemas
- Redução da autocrítica e aumento da autoeficácia
Outras abordagens úteis incluem:
- Terapia Comportamental Dialética (DBT) para regulação emocional intensa
- Mindfulness – para desenvolver foco e autoconsciência
3. Mudanças no Estilo de Vida
- Estabelecer rotinas diárias previsíveis
- Uso de apps de organização (Google Agenda, Todoist)
- Exercício físico regular – melhora concentração e humor
- Dieta equilibrada, sono adequado e redução de estímulos digitais
TDAH e o Impacto na Vida Adulta
1. Carreira Profissional
Adultos com TDAH podem ter um histórico de instabilidade profissional, dificuldades com prazos, distração em reuniões e procrastinação. No entanto, com o tratamento adequado, muitos conseguem transformar a criatividade e o hiperfoco em diferenciais positivos.
2. Relacionamentos
A impulsividade e a desatenção podem gerar conflitos em relacionamentos amorosos e familiares. A comunicação direta, o apoio psicoterapêutico e o entendimento mútuo são essenciais.
3. Autoestima e Saúde Mental
Muitos adultos chegam à vida adulta com uma história de críticas, fracassos escolares ou rotulações negativas. Isso pode gerar baixa autoestima, ansiedade e depressão. Por isso, o tratamento também foca na reconstrução da autoimagem.
Mitos e Verdades sobre TDAH em Adultos
- Mito: “TDAH é só coisa de criança.”
Verdade: O transtorno pode persistir por toda a vida. - Mito: “Quem tem TDAH é preguiçoso.”
Verdade: O TDAH afeta funções executivas do cérebro, não tem relação com esforço. - Mito: “Remédio vicia.”
Verdade: Quando bem indicado, o tratamento é seguro e eficaz, com risco mínimo de dependência.
Quando Procurar Ajuda?
Se você se identifica com os sintomas descritos e percebe impactos negativos na sua vida pessoal ou profissional, é hora de procurar um psicólogo ou psiquiatra especializado. O diagnóstico e o tratamento corretos podem transformar sua qualidade de vida.
Concluindo
O TDAH em adultos é real, comum e tratável. Embora os sintomas possam ser debilitantes, há esperança. O avanço das pesquisas e das abordagens terapêuticas permite hoje uma vida mais organizada, produtiva e satisfatória para quem convive com o transtorno.
Se você suspeita que tem TDAH, busque ajuda. Um diagnóstico correto é o primeiro passo para uma vida mais leve e com mais propósito.
Fontes
American Psychiatric Association. (2022). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5-TR. Artmed.
Faraone, S. V., Asherson, P., Banaschewski, T., et al. (2015). Attention-deficit/hyperactivity disorder. Nature Reviews Disease Primers, 1, 15020. https://doi.org/10.1038/nrdp.2015.20
Faraone, S. V., & Buitelaar, J. K. (2010). Comparing the efficacy of stimulants for ADHD in children and adolescents using meta-analysis. European Child & Adolescent Psychiatry, 19(4), 353–364. https://doi.org/10.1007/s00787-009-0054-3
Kessler, R. C., Adler, L., Barkley, R., et al. (2006). The prevalence and correlates of adult ADHD in the United States: Results from the National Comorbidity Survey Replication. American Journal of Psychiatry, 163(4), 716-723. https://doi.org/10.1176/ajp.2006.163.4.716
National Institute for Health and Care Excellence. (2018). Attention deficit hyperactivity disorder: Diagnosis and management. NICE guideline [NG87]. https://www.nice.org.uk/guidance/ng87
Simon, V., Czobor, P., Bálint, S., Mészáros, Á., & Bitter, I. (2009). Prevalence and correlates of adult attention-deficit hyperactivity disorder: Meta-analysis. British Journal of Psychiatry, 194(3), 204–211. https://doi.org/10.1192/bjp.bp.107.048827
📌 Quer saber se você tem TDAH?
Marque uma avaliação comigo, online e com sigilo garantido.
👉 Clique aqui para agendar pelo WhatsApp
