A testosterona é um dos hormônios mais associados ao que se entende popularmente por masculinidade: força, desejo sexual e agressividade. Mas a ciência tem mostrado que os efeitos desse hormônio no comportamento, humor e cognição são mais complexos do que se imagina — e ainda pouco compreendidos. Quando o assunto é TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), as perguntas se acumulam: haveria relação entre níveis hormonais e sintomas do transtorno? A testosterona influencia o funcionamento executivo ou o humor em homens com TDAH?
Apesar do crescente interesse pelo tema, a resposta é simples: a ciência ainda não sabe com certeza. Mas já existem pistas importantes.
Índice
O que sabemos sobre testosterona e TDAH?
Estudo e evidências ainda são escassos
Diferente do que já acontece com o estrogênio e seu impacto no humor, atenção e na eficácia da medicação em mulheres com TDAH, as pesquisas sobre a testosterona ainda estão engatinhando. Algumas hipóteses foram levantadas ao longo dos anos, especialmente pela antiga percepção de que o TDAH era mais comum em meninos do que em meninas.
Estudos têm explorado a possibilidade de que a exposição a altos níveis de testosterona durante a gestação poderia aumentar o risco de desenvolvimento do TDAH. Os resultados, porém, são conflitantes: alguns apontam correlação positiva, outros não encontram relação significativa. Nada conclusivo até o momento.
Influência hormonal no comportamento
Estudos mais amplos sobre testosterona em adultos têm investigado possíveis ligações com depressão, agressividade e cognição. Mas, mais uma vez, os dados são contraditórios: alguns estudos associam baixos níveis de testosterona à depressão, enquanto outros apontam que tanto níveis muito baixos quanto muito altos podem estar ligados a risco aumentado de transtornos do humor.
Quando o assunto é cognição, os resultados também são inconsistentes. Em relação à agressividade, acredita-se que a testosterona participe da regulação do comportamento agressivo, mas sem relação causal direta comprovada.
A terapia de reposição de testosterona (TRT)
A chamada TRT (Testosterone Replacement Therapy) é aprovada para o tratamento de hipogonadismo, condição na qual o corpo não produz testosterona suficiente. Porém, muitos homens estão buscando esse tipo de intervenção mesmo sem um diagnóstico formal.
Segundo dados da Associação Americana de Urologia, o número de prescrições de testosterona saltou de 7,3 milhões para mais de 11 milhões em cinco anos, sendo que um terço desses homens não possuía hipogonadismo diagnosticado.
Riscos da suplementação sem necessidade clínica
A administração indevida pode levar a diversos efeitos colaterais:
- Acne e oleosidade excessiva
- Apneia do sono
- Inchaço mamário
- Aumento da próstata
- Infertilidade
- Produção excessiva de glóbulos vermelhos (risco de trombose)
Para homens com TDAH que sofrem com fadiga, baixa autoestima, oscilações de humor ou falta de energia, é compreensível buscar uma solução hormonal. Mas é preciso cautela: testosterona não é panaceia e não é tratamento para TDAH.
Testosterona ao longo da vida masculina
Adolescência e puberdade
Durante a puberdade, os níveis de testosterona aumentam de forma significativa. Isso está associado a diversas mudanças corporais:
- Desenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos
- Crescimento de pelos
- Aumento de massa muscular
- Aumento da libido
Muitos atribuem também a esse período uma elevação dos conflitos emocionais e comportamentais. Mas estudos recentes sugerem que a relação entre puberdade e transtornos de humor pode ser mais complexa do que simplesmente “culpar os hormônios”.
Vida adulta e envelhecimento
A partir dos 35 a 40 anos, a testosterona começa a cair cerca de 1% ao ano. É o que se chama de andropausa, embora o processo seja mais lento e gradual do que a menopausa nas mulheres.
Homens podem apresentar:
- Fadiga persistente
- Queda da libido
- Diminuição da massa muscular
- Oscilações de humor
Porém, não há evidências claras de que a redução natural da testosterona leve, por si só, a problemas cognitivos ou emocionais. Isso difere da menopausa, onde o impacto do estrogênio é mais bem documentado.
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– Tratamento para TDAH
E o TDAH com tudo isso?
Embora não existam evidências diretas de que testosterona cause TDAH, nem que modulê a gravidade dos sintomas, há um ponto relevante: o TDAH afeta o funcionamento dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina. Esses sistemas também podem ser influenciados por hormônios sexuais como o estrogênio — e possivelmente a testosterona, embora isso não esteja confirmado.
Ou seja, ainda é cedo para tirar conclusões, mas não é absurdo supor que haja uma interação entre sistema hormonal e sintomas cognitivos.
Considerações para homens com TDAH
Sintomas comuns em homens com TDAH
- Dificuldade em manter o foco
- Impulsividade
- Irritabilidade
- Baixa autoestima
- Fadiga mental
- Dificuldade para manter rotina
Estes sintomas podem ser confundidos com sintomas de baixa testosterona, o que torna importante a avaliação profissional completa para não cair em tratamentos equivocados.
O que fazer?
- Evite buscar suplementos hormonais sem acompanhamento
- Se sentir que há algo errado com seu corpo ou humor, procure um médico endocrinologista ou um psicólogo especialista em TDAH
- A terapia cognitivo-comportamental é altamente eficaz no manejo dos sintomas do TDAH
- O uso de medicação deve ser avaliado por psiquiatra, especialmente se houver comorbidades
O que sabemos e o que ainda não sabemos
- A ciência ainda não tem resposta clara sobre o papel da testosterona no TDAH
- Os estudos são limitados, inconclusivos e dificultados por variáveis como dieta, sono, estresse e ambiente
- A relação entre hormônios e comportamento é real, mas complexa
- A melhor abordagem é integrada: psicoterapia, educação em TDAH, mudança de hábitos e avaliação médica
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