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TDAH em Mulheres: Como Acalmar um Sistema Nervoso Sobrecarregado

Uma análise profunda sobre TDAH em mulheres e o sistema nervoso sobrecarregado. Entenda a ligação com ansiedade, exaustão e hormônios, e aprenda estratégias para encontrar a calma.

Você se sente constantemente “no limite”? Como se o seu motor interno estivesse sempre acelerado, mesmo quando seu corpo implora por uma pausa? Você vive em um estado de “exausta, porém ligada no 220v”, onde a menor das críticas parece uma catástrofe e a lista de tarefas do dia a dia se transforma em uma montanha de paralisia e ansiedade?

Se essa descrição ressoa em sua alma, você está vivenciando uma das facetas mais desafiadoras e incompreendidas do TDAH em mulheres. Essa sensação avassaladora não é uma falha de caráter ou de “força de vontade”. Ela tem um nome e uma explicação neurobiológica: um sistema nervoso sobrecarregado e desregulado.

A experiência do TDAH feminino é, muitas vezes, uma dança complexa entre as demandas externas e um mundo interno que parece operar em um volume muito mais alto. A sociedade nos ensinou a mascarar nossas dificuldades e a nos esforçar o triplo para alcançar o que parece ser fácil para os outros. Mas essa performance tem um custo invisível e altíssimo, pago pelo nosso próprio sistema nervoso.

Neste artigo aprofundado, vamos mergulhar no universo do TDAH em mulheres, focando na sobrecarga do sistema nervoso. Baseado em conceitos como a Teoria Polivagal e nas mais recentes discussões sobre a interação hormonal e social, você vai descobrir:

  • O que significa ter um sistema nervoso sobrecarregado e como ele opera.
  • Por que a combinação de hormônios, expectativas sociais e a neurobiologia do TDAH feminino cria a tempestade perfeita para a desregulação.
  • Como identificar os sinais físicos e emocionais no seu dia a dia.
  • Estratégias práticas e corporais (somáticas) para começar a “religar” seu sistema, acalmar o caos interno e encontrar um caminho de volta para o seu centro.

É hora de parar de lutar contra o seu corpo e começar a entendê-lo. Esta é uma jornada para além da gestão de sintomas; é um convite à autorregulação e à autocompaixão, fundamental para quem vive com TDAH em mulheres.

O Painel de Controle Interno: Entendendo seu Sistema Nervoso Autônomo

Pense no seu Sistema Nervoso Autônomo (SNA) como o painel de controle automático do seu corpo. Ele regula tudo o que acontece sem o seu comando consciente: batimentos cardíacos, respiração, digestão, pressão arterial. O SNA tem dois ramos principais que funcionam como um acelerador e um freio:

  • Sistema Nervoso Simpático (O Acelerador): É o nosso sistema de “luta ou fuga”. Ele é ativado quando o cérebro percebe uma ameaça (seja um leão na sua frente ou um e-mail crítico do seu chefe). Ele inunda seu corpo com adrenalina e cortisol, aumentando a frequência cardíaca, tensionando os músculos e aguçando os sentidos para que você possa sobreviver. É um estado de alta energia e mobilização.
  • Sistema Nervoso Parassimpático (O Freio): É o sistema de “descansar e digerir”. Ele acalma o corpo após a ameaça ter passado, diminui a frequência cardíaca, relaxa os músculos e permite a digestão e a recuperação.

Em um sistema nervoso regulado, esses dois ramos trabalham em harmonia. Você acelera para lidar com um estresse e depois freia para voltar a um estado de calma e segurança. O desafio no TDAH em mulheres é que, frequentemente, o acelerador fica preso no máximo, e o freio parece não funcionar direito.

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A Teoria Polivagal: Um Olhar Mais Profundo Sobre o “Freio”

O neurocientista Stephen Porges expandiu nossa compreensão do sistema parassimpático com a Teoria Polivagal. Ele descobriu que o nosso “freio” (o nervo vago) na verdade tem dois caminhos distintos, criando um sistema de três partes:

  1. Vago Ventral (O Freio Inteligente – Segurança e Conexão Social): Este é o estado ideal. Quando o seu sistema vago ventral está no comando, você se sente calma, segura, conectada com os outros e engajada com o mundo. É o estado de regulação.
  2. Simpático (Luta ou Fuga – Mobilização): Como vimos, este é o estado de alerta. É útil para lidar com desafios, mas quando ficamos presas aqui, sentimos ansiedade, pânico, raiva e uma sensação constante de perigo.
  3. Vago Dorsal (O Freio de Mão de Emergência – Desligamento): Este é o caminho mais antigo de defesa. Quando a luta ou a fuga não são possíveis ou quando o sistema está tão sobrecarregado que não aguenta mais, ele “desliga”. Isso se manifesta como dormência, dissociação, fadiga extrema e colapso. É a “paralisia” que o TDAH em mulheres muitas vezes traz diante de uma tarefa esmagadora.

Para muitas, o dia a dia do TDAH feminino é uma montanha-russa entre o estado simpático (ansiedade, irritação) e o estado vago dorsal (paralisia, fadiga), com poucas e preciosas visitas ao estado calmo e seguro do vago ventral.

TDAH em Mulheres: A Tempestade Perfeita da Desregulação

A desregulação não acontece por acaso. Na experiência do TDAH em mulheres, ela é o resultado de uma interação complexa entre a neurobiologia do transtorno, as flutuações hormonais e a pressão esmagadora das expectativas sociais.

Fator 1: A Neurobiologia do TDAH e a Sensibilidade à Rejeição

O cérebro com TDAH já possui, em sua base, dificuldades com a regulação emocional devido à química da dopamina e noradrenalina. Some-se a isso a Disforia Sensível à Rejeição (DSR), uma dor emocional excruciante sentida em resposta a uma crítica, real ou percebida. Cada vez que uma mulher com TDAH percebe um sinal de desaprovação, seu sistema nervoso dispara uma resposta de ameaça, mantendo-a em um estado crônico de hipervigilância.

Fator 2: O Impacto do Ciclo Hormonal Feminino

Os hormônios são cruciais para entender o TDAH em mulheres. O estrogênio, em particular, ajuda a modular a dopamina no cérebro.

  • Como funciona: Quando os níveis de estrogênio estão altos (após a menstruação), os sintomas de TDAH podem ser mais leves.
  • A queda: Quando o estrogênio cai (antes da menstruação e drasticamente na perimenopausa), os sintomas pioram, a irritabilidade aumenta e a névoa mental se instala. Essa flutuação constante é um estressor biológico que empurra o sistema nervoso para a desregulação.

Fator 3: O Peso do “Masking” (Camuflagem)

O “masking” é uma estratégia de sobrevivência central no TDAH em mulheres. Desde pequenas, meninas são socialmente condicionadas a serem agradáveis e organizadas, o que as leva a esconder seus sintomas. Elas gastam uma quantidade monumental de energia para parecerem “normais”, forçando o foco, suprimindo a impulsividade e mantendo as aparências. Essa performance constante é o equivalente a viver 24/7 em um estado de luta ou fuga, levando a um esgotamento profundo.

Como a Desregulação se Manifesta no Corpo e na Mente?

Um sistema nervoso cronicamente desregulado, uma realidade comum no TDAH em mulheres, não é um conceito abstrato. Ele se manifesta em sintomas físicos e emocionais muito reais:

  • Tensão Muscular Crônica: Dores no pescoço, ombros, mandíbula (bruxismo).
  • Problemas Digestivos: Síndrome do intestino irritável, azia, má digestão.
  • Fadiga e Esgotamento: Sentir-se exausta mesmo após uma noite de sono.
  • Dificuldades para Dormir: Mente acelerada que não desliga.
  • Hipersensibilidade Sensorial: Sentir-se sobrecarregada por luzes, sons ou toques.
  • Reatividade Emocional: Explosões de raiva ou choro que parecem desproporcionais.
  • Ansiedade Constante: Uma sensação de pavor ou preocupação que não vai embora.
  • Paralisia e Procrastinação: O “desligamento” do vago dorsal diante de tarefas.

O Caminho de Volta: Estratégias Somáticas para a Autorregulação

A boa notícia é que podemos aprender a “dialogar” com nosso sistema nervoso e guiá-lo gentilmente de volta a um estado de segurança. A chave é usar abordagens “de baixo para cima” (bottom-up), ou seja, usar o corpo para enviar sinais de segurança ao cérebro.

“Lanches” para o seu Nervo Vago: Práticas Diárias

Pense nessas práticas como pequenos “lanches” que você pode oferecer ao seu sistema nervoso ao longo do dia para nutri-lo e acalmá-lo.

  1. Respiração Diafragmática: A respiração lenta e abdominal (inflando a barriga) estimula diretamente o nervo vago. Inspire pelo nariz (contando até 4) e expire lentamente pela boca (contando até 6 ou 8).
  2. Vocalização e Som: O nervo vago está conectado às nossas cordas vocais. Cantarolar, cantar ou fazer um som de “Voooooooo” grave e vibrante pode ajudar.
  3. Movimento Consciente: O movimento ajuda a liberar a energia presa no corpo. Opte por ioga suave, tai chi, dançar livremente ou se espreguiçar de forma consciente.
  4. Contato com o Frio: A exposição ao frio ativa o nervo vago. Jogue água fria no rosto ou termine o banho com 30 segundos de água fria.
  5. Técnicas de “Grounding” (Aterramento): Trazem sua consciência para o corpo e para o momento presente. Sinta firmemente seus pés no chão, note a textura da sua roupa ou descreva um objeto ao seu redor.

Abordagens Terapêuticas e Mudanças no Estilo de Vida

  • Terapia Somática: Abordagens como a Experiência Somática (Somatic Experiencing) são projetadas para ajudar o corpo a processar e liberar o estresse armazenado.
  • Psicoeducação: Entender a Teoria Polivagal e aprender a identificar em qual estado seu sistema nervoso se encontra é incrivelmente empoderador para a jornada do TDAH em mulheres.
  • Gestão de Energia, Não de Tempo: Honrar seus limites de energia é fundamental. Isso significa dizer “não”, agendar pausas e criar um ambiente que minimize gatilhos.
  • Nutrição e Sono: Estabilizar o açúcar no sangue e priorizar a higiene do sono são a base para um sistema nervoso mais resiliente.

Conclusão: Abrace a Sua Jornada com o TDAH com Compaixão

Viver a experiência do TDAH em mulheres em um mundo que não foi projetado para essa neurobiologia é uma fonte crônica de estresse. A sensação de estar com o sistema nervoso sobrecarregado não é sua culpa. É uma resposta compreensível do seu corpo à sua biologia, aos seus hormônios e a uma vida inteira de pressões para se conformar.

O caminho para a regulação não é sobre se “consertar”, mas sobre aprender a cuidar do seu sistema nervoso com gentileza. É uma prática diária de ouvir seu corpo e, lentamente, ensiná-lo que ele pode sair do modo de sobrevivência. Ao fazer isso, você alivia a ansiedade e a exaustão e cria mais espaço para que sua criatividade, paixão e brilho únicos possam florescer.

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Carlos Almada Psicólogo / Neuropsicólogo
Carlos Almada Psicólogo / Neuropsicólogohttps://www.tdahbrasil.com.br
Psicólogo e Neuropsicólogo, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental especializado no atendimento e diagnóstico de adultos com TDAH.
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