Quando falamos em TDAH, a maioria das pessoas imagina uma criança inquieta, desatenta e impulsiva. De fato, é assim que os principais manuais diagnósticos, como o DSM-5, descrevem o transtorno — com base em sintomas observados em crianças entre 6 e 12 anos. Mas e quanto aos adolescentes? E os adultos? Será que essas descrições dão conta da complexidade do TDAH em todas as fases da vida?
Segundo o psiquiatra norte-americano Dr. William Dodson, a resposta é não.
Neste artigo, você vai descobrir três características centrais do TDAH que geralmente não aparecem nos diagnósticos formais, mas que são frequentemente relatadas por pessoas que vivem com o transtorno: o sistema nervoso baseado em interesse, a hiperestimulação emocional e a sensibilidade à rejeição.
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1. Sistema Nervoso Baseado em Interesse: O Foco Não é o Problema
O que isso significa?
Apesar do nome, o TDAH não representa uma “falta de atenção”. O problema real está na regulação da atenção — ela é inconsistente e depende do tipo de estímulo envolvido.
Pessoas com TDAH conseguem se concentrar profundamente quando algo ativa seu interesse, oferece um desafio, é novo ou tem urgência. Esse fenômeno é chamado de hiperfoco — um estado em que a pessoa entra em “modo turbo” e consegue se dedicar intensamente a uma tarefa… mas só se essa tarefa despertar seu sistema de interesse.
Como identificar isso?
Quando perguntamos a alguém com TDAH se ela consegue prestar atenção, a resposta mais comum é: “Depende.”
Se for algo interessante, envolvente ou com prazo apertado, o foco aparece. Mas se a atividade parecer entediante ou irrelevante (mesmo que importante), a mente simplesmente não “liga”.
Essa oscilação de foco costuma gerar muitos conflitos familiares e no trabalho. A pessoa é julgada como preguiçosa, desorganizada ou desmotivada, quando na verdade o problema é neurobiológico.
Como lidar com isso?
Além de medicamentos, é importante adotar estratégias personalizadas para aumentar o engajamento:
- Use body doubling: trabalhar na presença de alguém ajuda a manter o foco.
- Crie desafios e jogos com tarefas chatas.
- Transforme o tédio em algo pessoal (ex: “Estou estudando anatomia para salvar meu ídolo.”).
- Use timers, recompensas rápidas e intervalos curtos para manter a atenção.
2. Hiperestimulação Emocional: Quando o Mundo Interior Está Sempre Ligado
O que é isso?
A maioria das pessoas associa o TDAH à hiperatividade comportamental (falar demais, se mexer muito, etc.). Mas em muitos casos, a agitação é interna.
Dr. Dodson explica que cerca de 75% dos adultos com TDAH não apresentam hiperatividade visível, mas sim uma sensação interna de estar constantemente “ligado”:
- “Não consigo relaxar, nem desligar meu cérebro para dormir.”
- “Não consigo apenas sentar e ver um filme tranquilo com minha família.”
- “Minha mente está sempre acelerada.”
Além disso, pessoas com TDAH sentem emoções com muito mais intensidade. Alegria, raiva, frustração, vergonha, medo — tudo é mais forte, mais rápido e, muitas vezes, mais difícil de controlar.
Qual o impacto disso?
- A autoestima sofre desde a infância.
- A autocrítica se torna constante.
- Críticas e fracassos são sentidos com peso desproporcional.
- Muitos adultos relatam uma infância marcada por vergonha e sensação de “não ser bom o suficiente”.
Como identificar?
Ao contrário dos transtornos de humor (como depressão), que se prolongam por semanas, as emoções no TDAH são intensas, mas passageiras. Um comentário negativo pode derrubar o humor de alguém por algumas horas — mas no dia seguinte, a emoção já passou. Essa montanha-russa emocional é típica do TDAH.
Perguntas úteis para identificar esse padrão:
- “Você sente que suas emoções são mais intensas do que as das outras pessoas?”
- “Você costuma se recuperar rápido depois de um evento estressante?”
Como gerenciar?
- Ter uma rede de apoio é essencial: amigos, terapeutas, familiares.
- Buscar terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda a mudar o diálogo interno.
- Técnicas de mindfulness e meditação auxiliam na regulação emocional.
- Em alguns casos, medicamentos estabilizadores podem ser indicados.
3. Sensibilidade à Rejeição: A Dor Invisível do TDAH
O que é?
A Disforia Sensível à Rejeição (RSD) é uma das experiências emocionais mais dolorosas relatadas por pessoas com TDAH. Trata-se de uma resposta intensa (e muitas vezes desproporcional) a qualquer percepção de rejeição, crítica ou fracasso.
A palavra-chave aqui é “percepção”. Nem sempre a rejeição é real — às vezes, basta um olhar atravessado ou um e-mail ignorado para acionar uma espiral emocional.
Muitos descrevem a sensação como uma dor física, como um soco no estômago ou uma facada no peito.
Como isso se manifesta?
- Evitar tentar coisas novas por medo de falhar.
- Tornar-se “agradador” compulsivo.
- Explosões de raiva ou crises de choro.
- Abandono precoce de projetos por medo de críticas.
O que fazer?
Infelizmente, a RSD não costuma responder bem à psicoterapia tradicional. Mas existem caminhos:
- Medicamentos como guanfacina e clonidina (alfa-agonistas) podem ser eficazes.
- Ter uma figura de apoio que valide o seu valor pessoal (o “cheerleader” emocional).
- Criar estratégias de autoafirmação, como cartas para si mesmo ou mantras positivos.
Conclusão: O Verdadeiro Rosto do TDAH
O TDAH não é apenas sobre esquecer chaves ou interromper conversas. Ele é um transtorno profundo, que afeta motivação, emoção e percepção de valor próprio.
Reconhecer as três características menos visíveis — sistema baseado em interesse, hiperestimulação emocional e sensibilidade à rejeição — é fundamental para oferecer diagnósticos mais precisos e tratamentos mais humanos.
Se você se identificou com essas descrições, saiba: você não está sozinho. O primeiro passo é buscar apoio profissional, se informar e entender como o seu cérebro funciona. O TDAH é desafiador, mas com o suporte certo, você pode construir uma vida plena, produtiva e com mais leveza.
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